em busca dos limites perdidos
15/09/2014 às 12:21
Uma das maiores canalhices da geração dos
anos 1960 foi colocar o jovem no centro do universo, como o detentor de
uma sabedoria ímpar. Considero o tema tão importante que mereceu um
capítulo inteiro em Esquerda Caviar,
sobre a juventude utópica. Explorar a insegurança natural dos jovens
para aplacar o tédio dos mais velhos é de uma covardia abjeta. Mas foi
exatamente isso que os “intelectuais” fizeram.
Luiz Felipe Pondé, em sua coluna
de hoje, toca no assunto com sua típica ironia. Antes de começar, manda
os “inteligentinhos” mentirosos, que distorcem tudo que é dito, pegarem
sua “merenda balanceada” (risos) e brincar no parque. Falar da
juventude é coisa séria, mas cada vez mais difícil frente a tanta
imaturidade dos mais velhos e de muitos jovens que já aderiram ao
discurso politicamente correto.
O filósofo traz duas teses: uma, de que
essa ideia estapafúrdia de que cabe ao jovem “salvar o mundo”, enfiada
em suas cabeças há quarenta anos, fez um enorme estrago; outra, de que
não há uma distância gigantesca entre os aderentes da “jihad light” e da
“hard”, essa que efetivamente parte para a violência. Diz Pondé:
“Salvar o
mundo” obriga aos mais jovens terem opiniões sobre tudo, principalmente
sobre coisas complexas como economia (quando só conhecem a mesada ou a
grana do estágio e não são responsáveis por nada de fato),
relacionamento homem-mulher (quando acabaram de entrar no “mercado dos
sofrimentos afetivos” e mal sabem o que é amar no mundo real),
geopolítica (quando muito, se tem dinheiro, fazem intercâmbio na
Austrália ou viajam via ONGs superlegais para fazer trabalho social em
Madagascar por três meses antes da pós em Nova York).
E, o mais
importante: esses jovens cheios de “causas pra mudar o mundo” fogem da
obrigação de arrumar o quarto se escondendo atrás de discursos sobre o
mundo, construídos por professores de história ou filosofia cuja única
glória é pregar para adolescentes entediados com um mundo que é sempre
cinza e confuso. Além, claro, do tédio com o casamento sem saída dos
seus pais.
Ou seja, em vez de aprender a respeitar
limites, a aceitar uma hierarquia no saber e na vida, ao obedecer
regras, os jovens “aprendem” que são os portadores da Boa Nova, que têm o
poder de mudar o mundo aqui e agora. Esse discurso produz uma legião de
mimados. Com mesada do pai ou do estado, e entediados, partem para a
busca de aventuras ideológicas, tornam-se fundamentalistas.
Alguns viram seguidores fanáticos de
Peter Singer, elegem causas de butique como “libertar os animais do jugo
dos carnívoros”. Outros partem para coisas mais radicais, como os black
blocs. Justificando seu radicalismo que vem aplacar suas angústias e
inseguranças, esse jovem se vê dotado do direito de “purificar” o mundo,
nem que seja à base de porrada.
Estamos a um passo dos que sucumbem ao
fundamentalismo islâmico, entediados e se sentindo alienados em países
prósperos e com ampla liberdade, mas que seus professores de filosofia
retratam como os ícones de toda a podridão do mundo. E Pondé ainda
acrescenta outro fator contemporâneo:
Muitos
meninos, equivocadamente, penso eu, sentem que não há espaço pra eles
num mundo civilizado em que a masculinidade é vista como sintoma social a
ser suprimido via a transformação de todo e qualquer comportamento
masculino em “machismo”. Muitos meninos temem acabar a vida cuidando de bebês e tendo que parecer meninas para poderem existir.
Acho isso um
equívoco, mas negar a existência do fato (que os meninos estão se
sentindo acuados por um mundo que os quer feminilizar a todo custo) é
outro equívoco.
Os jovens
aderentes aos grupos fundamentalistas violentos são movidos pelos mesmos
sentimentos dos nossos jovens que querem salvar o mundo: a busca da
pureza na vida. É hora de pararmos de mandar esses meninos e meninas
salvarem o mundo.
Concordo. Enquanto os jovens não puderem
ser jovens de verdade, imaturos, não encontrarem freios na Lei, seja a
paterna, seja a estatal, e ainda forem incitados a tomar conta do mundo,
pois são os ungidos que vieram nos salvar, vão buscar refúgio em seitas
fanáticas e cada vez mais violentas e intolerantes.
O que o jovem precisa é, antes de tudo,
salvar a si próprio. E isso se faz com a ajuda dos mais velhos, que
ensinam a respeitar as regras, não a ignorá-las em nome de utopias. Um
pai que quer o melhor para seu filho deveria obrigá-lo a arrumar o
quarto, não a aplaudir o professor idiota que lhe transmite os
“maravilhosos” pensamentos subversivos de Foucault.
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